Friday, July 18, 2008

Quem tem mãe, tem tudo, by Margarida Rebelo Pinto

Não gosto dos livros dela...
Mas ela tem crónicas (antigas) que gosto muito.

Esta é uma delas, mesmo que um pouco grandita (e já é de 2003):

"Todos os homens têm 3 grandes problemas na vida: o ego, o tamanho do dito cujo e a mãe. E é extraordinário como tudo acaba por andar à volta desta trilogia maldita.
E a mais difícil, porque tem raízes mais profundas e já existia antes da dita cuja fazer falta e do ego se consciencializar, é a mãe, esse ser mítico e incontornável que aterroriza e fascina os pequenos desde o dia em que nascem até ao dia em que morrem.
E se quem tem uma mãe tem tudo e quem não tem mãe não tem nada, quem as tem também tem uma carga de trabalhos, porque uma mãe pode ser uma cruz, um peso, uma seca, o inferno na terra, mesmo quando se pensa que é uma santa.
Até porque o Édipo é um complexo ao qual infelizmente muito poucos escapam. E quando ele matou o pai e se casou com a mãe, é certo que não sabia o que estava a fazer, nem uma coisa tem a ver com a outra porque o jovem não matou o senhor para empernar com a senhora, mas factos são factos e contra factos não há argumentos: a mãe é, quer se queira que não, a primeira mulher da vida de um homem. Para o bem, para o mal, e para toda a vida, quer se queira quer não. É aqui que a linda e cara palavra inevitabilidade se pode aplicar com todo o seu rigor e esplendor.

Os povos latinos é que são bons nisto: conseguem viver uma vida inteira debaixo das saias da maezinha e achar isso normal. A mãe latina – espanhola, portuguesa, italiana ou sul americana – é uma mãe vasta, generosa de formas e de coração, protectora incansável dos seus rebentos, muito dada ao fogão e ao tanque, que deixa de viver a vida dela em função dos animais que tem em casa, marido e filhos, entenda-se. É uma mulher fogosa mas submissa, que mesmo que seja directora financeira de uma multinacional e facture por ano o triplo do que o marido, acha a coisa mais normal do mundo passar a camisa do marido a ferro antes do pequeno almoço se este precisa. A mulher latina é uma boa mulher e uma óptima mãe, mas educa mal os maridos e ainda pior os filhos, que crescem como animais selvagens tendo como dado adquirido que as mulheres são todas como a mãe, chegadas ao tanque e ao fogão. E se não são, é porque são todas umas p... enfim, vocês já sabem o resto.
Estas mães zelosas e dedicadas projectam todo o amor doentio que carregam no peito nos filhos e eles, coitados, tornam-se uns incapazes, porque têm como adquiridas realidades que já não existem.
Meus amigos, convençam-se disto: já não há mulheres domésticas. Nós agora trabalhamos e também gostamos de mandar. E se não mandamos nem que seja um bocadinho, podem voltar para casa da mamã, lugar do qual nunca deviam ter saído.
E se se dá o caso da mãe não só não ser nenhuma santa como também ser uma grandessíssima bruxa, então é que a rapaziada fica toda estragada. Uma mãe que não deu amor aos rebentos, transforma os homens em bichos. Uma mãe que nunca ligou aos filhos faz homens confusos inseguros e desconfiados. Uma mãe violenta faz homens violentos. Uma mãe autoritária cria rapazes que mais parecem bananas com olhos.
E por aí fora.

Conheço alguns casos de filhos de mães bruxas e são histórias tristes; os filhos, além de fazerem sofrer imenso as mulheres com quem andam, também sofrem um bocado porque isto é como tudo na vida e as acções ficam com quem as pratica. Porque uma mãe – ou a mãe , como gostam de dizer os betos – é uma espécie de label, de ferro em brasa na manada, de marca de nascença: deixa sequelas para sempre na vida de uma pessoa. Estou muito freudiana, eu sei, mas o tema puxa e o Freud sabia alguma coisa disto.
E mesmo que um homem odeie a sua mãe, pode acontecer que se apaixone por uma mulher do mesmo género. É o destino e o destino é fatal. Ou então, para compensar os traumas de infância, arranja uma desgraçada em quem descarrega todo o fel acumulado desde a infância. É para estas coisas que servem os psiquiatras.

No meio deste quadro de miséria, vão aparecendo de vez em quando uns rapazes que, como têm uma mães porreiras, são bons da cabeça e do resto. São filhos de mães despachadas, divertidas, actuais, elegantes e determinadas, sem complexos feministas que tratam bem os filhos sem os endeusar. São as mães modernas, que já chegaram ao mundo ocidental há mais de vinte anos, mas como sempre acontece neste lindo quintal à beira-mar plantado, só agora têm aparecido.
Uma mãe porreira, divertida, descontraída que vai com os filhos ao cinema e janta nos mesmos restaurantes é condição quase suficiente para ter um filho que trate bem as outras mulheres. São mães que adoram ser mães, mas também adoram ser mulheres, ganhar dinheiro, jantar fora com as amigas e ter vida própria. São protectoras mas críticas, interessadas sem se meterem, são confidentes mas discretas e estão ali para ajudar. Os filhos de mães deste calibre são óptimos maridos e namorados, têm espírito de família e apreço pela vida caseira e não acham que o fogão e o tanque sejam uma obrigação exclusivamente feminina. Nem sequer acham que sejam uma obrigação. Têm respeito pelas mulheres e sabem ouvi-las. E sobretudo – isto é mesmo o mais importante – sabem gostar delas.

É claro que lhes pode acontecer à mesma, como aos outros, interessarem-se por uma mulher que, em alguns aspectos, seja parecida com a própria mãe. Mas isso não é um defeito, é feitio. E se a mãe for uma boa referência, que mal tem? Para esses processos inconscientes já não faz falta nenhuma um psiquiatra. Quem é que disse que a vida é um eterno regresso a casa? Não sei ao certo, mas deve ter sido uma mãe. "

5 comments:

S.A. said...

Epá.. não consigo gostar desta gaja!

AnaBond said...

confesso que também não gosto...
acho-a demasiado convencida, nariz no ar e tudo.
detesto os livros de ficção dela. detesto a escrita dela.

mas contrariamente, gosto das crónicas... as antigas. dessa altura, 2003... as que ela escreveu depois, inclusivé para as Selecções, não gosto nem de uma.

o sucesso subiu-lhe ao nariz...

Abelha said...

Recuso-me a ler seja o que for escrito por aquela senhora, sim porque "gaijas" somos nós.

Salta Pocinhas said...

epah, eu tive para me abster, mas não resisti...
quer dizer, não percebo como não gostam dela!!!! Ela é assim o guru da literatura de casa de banho (tive dois minutos a pensar se hifenizava ou não, mas vejamos isto pelo prisma do acordo ortográfico e fica tudo bem). Como ia dizendo, ela é assim o guru da literatura de WC (aha! pensavam que apanhavam, hein): adoro! especialmente quando estou a cagar!!!!
e posto isto... fui!
ahh e welcome myself! :)
que eu sou GAIJA resolvida

Mae Frenética said...

Eu li e tenho medo de ser uma mae daquelas latinas... será?